Há cerca de 6 meses conclui a reforma de um apartamento antigo aqui em Brasília, DF. Foi a minha primeira reforma e, obviamente, cometi diversos erros e me arrependi de várias decisões. Seguem algumas lições aprendidas que talvez possam te ajudar a tomar boas decisões.
1. Divida o projeto arquitetônico em duas fases: primeiro a demolição, depois o projeto propriamente dito
Contratar um arquiteto é essencial. Mas em se tratando de uma reforma, ainda mais de um apartamento, surpresas podem ocorrer. Mesmo que o arquiteto use um detector de pilares, vigas, colunas de encanamento do prédio etc... ainda sim podem haver surpresas. Por isso, é melhor separar o projeto em duas fases. Primeiro, já tendo alguma ideia do que você pretende fazer, peça para o arquiteto um projeto de demolição. E contrate uma equipe só para essa fase. Vai sair mais caro contratar só a demolição separada do resto? Provavelmente. Mas a tranquilidade que você terá durante a execução da segunda fase não tem preço. Além disso, você pode até ganhar algum tempo. Como a demolição pode ser iniciada prontamente, talvez o arquiteto aproveite este tempo para já ir começando o processo criativo. Além disso, durante a execução da segunda fase, você não perderá tempo contornando eventuais surpresas.
2. Fazer o projeto executivo hidráulico e elétrico detalhados é essencial
A minha arquiteta me convenceu a não contratar esses projetos e no final me arrependi. Por conta da falta deles, a execução da obra foi comprometida e diversos problemas que poderiam ter sido evitados tiveram que ser contornados. Por exemplo, como não havia projeto hidráulico detalhado, um cano foi passado em uma área do forro de gesso que, depois, acabou prejudicando a instalação da própria iluminação. Além disso, depois foi uma dor de cabeça lembrar onde os canos estavam e onde poderíamos furar a parede para instalação de armários etc... Alguns arquitetos até fazem o projeto hidráulico mas é muito raro encontrar algum que faça o projeto elétrico. Não estou me referindo apenas aos pontos de luz, tomadas, interruptores etc... Isso eles já incluem no projeto. Estou me referindo aos circuitos, tubulação etc... Então muito provavelmente você precisará contratar um engenheiro elétrico também, mas geralmente trata-se de um projeto bem mais barato do que o arquitetônico.
3. Proponha ao vizinho do andar de baixo uma vistoria antes da demolição e obra
Quando minha reforma terminou, minha vizinha me procurou para solicitar o reparo de diversos problemas no apartamento dela. Chegando lá tive a impressão de que alguns daqueles problemas já estavam lá há anos, mas mesmo assim acabei sendo obrigado a arcar com todos os reparos. Para evitar problemas como esse, a melhor coisa é fazer uma vistoria antes da demolição, que é a fase com maior potencial de causar danos no vizinho de baixo. Tire fotos de todas as paredes, tetos e juntas. Tire também fotos de portas e armários. Lavre um termo de vistoria, anexe as fotos e peça para o vizinho assinar. Isso vai evitar muita dor de cabeça futura.
4. Não existe contrato de administração de reforma do tipo "me entregue apenas as chaves"
Contratar um administrador de obra é essencial. Muitos não fazem isso, ficam traumatizados com a quantidade de problemas que precisam resolver e no final acabam gastando a mesma coisa. E um administrador de obra vai te ajudar bastante nas compras de material, que é o que toma mais tempo. Mas um administrador de obra, por melhor que seja, como foi justamente o meu caso, não é muito detalhista. Se você não ficar em cima, muitos detalhes serão esquecidos. Então sua presença diária na obra é imprescindível. Minha dica é tentar colocar o maior número de detalhes no contrato de administração da obra. Quem sabe assim ele se obriga a ser mais detalhista.
5. Não faça cimento queimado
Cimento queimado é muito bonito e voltou à moda com tudo, ainda mais em projetos mais "modernos", "industriais" ou "rústicos". Só que esse acabamento era muito comum antigamente. Hoje em dia simplesmente muitos profissionais sequer aprenderam a fazê-lo. O problema é que acabam dizendo que sabem. No meu caso me arrependi amargamente. O piso ficou muito trincado por falta de cuidado com a umidade durante a cura do cimento. Além disso, trata-se de um piso que arranha muito fácil se envernizado e, caso opte pela resina, vai ficar esbranquiçado. Não faria novamente se tivesse a chance. Existem pisos similares mais modernos, como o P500 ou P600 por exemplo, que são executados por empresas especializadas e prometem resultados melhores. Mas não recomendo o chamado microcimento ou cimento monolítico pois já vi aplicado e ele é muito frágil. Para vocês terem uma ideia, meu irmão utilizou microcimento da Microreve na cozinha dele e, só de fastar a geladeira para limpar, o peso da geladeira fez o piso afundar, deixando várias marcas das rodinhas da geladeira.
6. Não use Corian, Tresol etc... nas bancadas
Corian é lindo e as emendas são praticamente invisíveis. Mas os benefícios param por aí. Apesar de toda a propaganda, Corian é poroso sim, arranha super fácil e mancha com o calor. Eu comprei sabendo de tudo isso, só não imaginava que fosse tão ruim. Ele é tão poroso que qualquer mancha precisa ser limpa imediatamente, do contrário você terá que polir depois. Inclusive, se algum local ficar molhado muito tempo, vai mofar de forma muito similar ao silicone. Ele arranha tão fácil que, passados apenas cerca de 6 meses de uso, ele já perdeu completamente o brilho. Os vendedores falam muito das emendas invisíveis, mas a verdade é que, dependendo da cor, é possível perceber elas sim. Não compraria se pudesse voltar no tempo. Granito ou materiais mais modernos como o Dekton seriam minha opção. Nisso a minha arquiteta avisou mas fui teimoso.
7. Se a marcenaria tiver muitos detalhes, contrate um marceneiro não uma loja
Lojas, mesmo as mais caras e sofisticadas, não sabem executar projetos de marcenaria muito detalhados, que era justamente o meu caso, apesar de muitas prometerem justamente isso. Lojas costumam apenas adaptar módulos de tamanhos prédefinidos. Os ajustes geralmente são feitos apenas no momento da instalação e o acabamento final das peças ajustadas não fica 100%. No final, tive que abrir mão de alguns detalhes e ainda foi necessário contratar um marceneiro para resolver problemas pontuais. Ficou muito claro que teria sido melhor contratar um marceneiro desde o início.
8. Se for utilizar aquecimento à gás, pense no isolamento térmico da tubulação
Para aproveitar melhor a energia do gás gasto no aquecimento, é importante utilizar algum material para o isolamento térmico da tubulação de água aquecida. Recomendo fazer o fechamento dos cortes nas paredes com espuma expansiva. O cimento é um péssimo isolante térmico e vai roubar o calor existente na tubulação. Isso deixará a tubulação sempre fria e levará mais tempo para esquentar a água toda vez que for utilizar água quente. Aquecimento à gás é muito comum em outros países onde justamente não se usa alvenaria e sim estruturas de madeiras preenchidas com espuma expansiva.
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