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Por que investimentos em Bitcoin [e em praticamente todas as outras criptomoedas] são esquemas de pirâmide ou Ponzi?


Antes de tudo, apenas algumas ressalvas. Considero o Bitcoin, todas as outras criptomoedas e o blockchain de forma geral tecnologias inovadoras (apesar de antigas) e revolucionárias. Sei que existem muitas aplicações práticas para essa tecnologia além de apenas meios de pagamento e moeda digital. Penso também que existe sim a possibilidade de um dia uma ou mais criptomoedas descentralizadas e distribuídas se tornarem de fato uma moeda, ou seja, um meio de troca amplamente aceito. Eu, por exemplo, invisto um pequeno percentual do meu patrimônio em Bitcoin e Ethereum. E acho válido comprar criptomoedas por motivos ideológicos.

Dito isso, é preciso que as pessoas saibam que os investimentos em criptomoedas, pelo menos por enquanto, se comportam como um esquema pirâmide ou Ponzi. Vou repetir: "se comportam". Digo isso porque não foi, provavelmente, a intenção dos criadores dessas tecnologias, criar um esquema pirâmide. Mas, infelizmente, o comportamento desses investimentos os coloca, pelo menos por enquanto, no mesmo patamar de um esquema pirâmide. E nesse sentido vários economistas renomados e até cientistas da computação já se manifestaram. 

Não julgo quem discorda, por que eu mesmo só me convenci depois de algum tempo. O artigo que me convenceu de uma vez por todas foi um artigo do Jorge Stolfi, cientista da computação da Unicamp. Trata-se de um artigo simples e fácil de ler que aborda todas as falácias daqueles que defendem que as criptomoedas não são um esquema pirâmide. Fala especificamente sobre o Bitcoin, mas se aplica a qualquer outra criptomoeda com funcionamento similar.

Isso significa que, quando o fluxo de entrada de novos investidores diminuir ou parar, toda a pirâmide vai cair por terra e o preço da criptomoeda vai cair bastante. Essa queda não seria de todo ruim, já que colocaria o preço novamente em um patamar que correspondesse a uma moeda comum. Mas quando isso acontecer, muitas pessoas perderão seus investimentos.

As pessoas precisam entender de uma vez por todas que as moedas não são moedas por que as pessoas milagrosamente concordaram em aceitá-las como meio de pagamento. Isso podia até ser verdade em um passado remoto, quando os povos ainda não estavam organizados e os indivíduos ou grupos tinham que acordar os meios de pagamento. Mas isso não é verdade há muito tempo. As moedas só são moedas hoje por que os governos obrigam as pessoas a aceitá-las como tal. E isso, lamento dizer, dificilmente vai acontecer com o Bitcoin, nem com nenhuma outra criptomoeda descentralizada e distribuída. E por uma razão muito simples: os governos não vão conseguir mais imprimir dinheiro. Então enquanto existirem governos, muito provavelmente não haverá uma criptomoeda descentralizada e distribuída largamente aceita como meio de troca. O caso de El Salvador é um fato isolado que não deve ser levado em conta. Trata-se de uma iniciativa muito boa. Mas só contribuiria para "desfazer" a pirâmide se fosse seguido por outros países.

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