Tenho quase 50 anos. E, ao longo desses anos, em especial os últimos, tive a oportunidade de aconselhar muitas pessoas. Aconselhei colegas de escola sobre estudos. Aconselhei colegas de trabalho sobre carreira e profissão. Aconselhei amigos sobre família, saúde, finanças e outros assuntos. Aconselhei familiares sobre questões diversas também. Nos últimos anos, tenho dedicado uma energia razoável tentando convencer meus pais a cuidarem melhor da saúde física e mental. Sabe quantos desses conselhos foram levados a sério? Zero. E, se você também gosta de dar conselhos pessoais, é bem provável que tenha uma impressão parecida.
Estou falando, obviamente, de conselhos realmente pessoais. Se alguém está lendo um livro ou assistindo a uma palestra, ouve um conselho qualquer e decide colocá-lo em prática, isso é outra história. Nesse caso, não foi o conselho em si que fez a pessoa agir. Ela ouviu algo, achou interessante e se convenceu sozinha. E se foi ela mesma que buscou o livro ou foi assistir à palestra, é bem provável que já estivesse pensando em fazer aquilo. Agora, conselhos pessoais, vindos de conhecidos, colegas, amigos ou familiares, esses parecem simplesmente não funcionar.
E não confunda conselho pessoal com prescrição médica ou orientação de outro profissional. Se um médico recomenda a um paciente saudável que faça exercícios físicos e cuide da dieta, ele provavelmente vai ignorar. Já se o paciente estiver correndo risco de morte ou lidando com uma dor insuportável, a chance de ele seguir o conselho é maior. Mas, mesmo assim, não se trata de um conselho pessoal. Ele só não quer morrer ou continuar sofrendo. O mesmo vale para conselhos financeiros ou jurídicos. Conselhos preventivos quase sempre são ignorados. Se a pessoa estiver prestes a perder dinheiro ou enfrentar um processo, talvez ela escute.
Há, sem dúvida, uma explicação para o fato de conselhos pessoais não funcionarem. Eu, sinceramente, não sei qual é. Suspeito que tenha a ver com o ego e o orgulho. Aceitar um conselho pessoal é, de certa forma, admitir que a outra pessoa está certa naquela questão específica, e nós, errados. Já quando o conselho vem de um livro ou palestra, não há esse componente pessoal. Mas imagino que o problema vá além disso.
Ainda assim, dar conselhos pessoais faz parte da vida. Não porque eles funcionem, mas pelo caráter de aviso. Às vezes, dar um conselho é necessário para ficarmos em paz com a nossa consciência. Algo como um "eu avisei". E não, você não precisa jogar isso na cara de ninguém depois. É que, ao dar o conselho, sentimos que cumprimos nossa parte, e isso tem um valor importante. Além disso, dar um conselho é uma forma de mostrar que nos importamos com a pessoa. Talvez, um dia, ela se lembre disso e passe a nos valorizar mais. Mas é preciso ser realista: conselhos pessoais, por mais óbvios ou úteis que sejam, geralmente não funcionam.
Se conselhos pessoais não funcionam, existe alguma alternativa? Sim, o exemplo. Se você quer que alguém faça alguma mudança na vida, dê o exemplo. Mostre, na prática, os resultados positivos de fazer o que você gostaria que a outra pessoa fizesse. Quer que alguém cuide melhor da saúde? Cuide da sua saúde. Fale sobre como isso tem te ajudado. Quer que alguém pratique atividade física? Pratique atividade física. Conhece alguém que precisa ler e estudar mais? Mostre-se como alguém que lê e estuda bastante. Quer inspirar alguém a tomar boas decisões financeiras? Demonstre sabedoria na gestão das suas próprias finanças. E assim por diante.
Ao fazer isso, você perceberá pelo menos três coisas. Primeiro, que o número de questões sobre as quais você sente necessidade de aconselhar os outros vai diminuir bastante, porque só é possível dar o exemplo em algumas poucas. Segundo, que você só vai desejar que alguém faça algo que você mesmo já experimentou e viu funcionar. E, terceiro, que você mesmo precisa melhorar em muitos aspectos.
Portanto, hora de começar a dar o exemplo. Lembre-se de que, mais do que palavras, são as ações que inspiram mudança. Um exemplo genuíno é muito mais poderoso do que qualquer conselho, porque ele não só demonstra resultados concretos, mas também serve como uma prova silenciosa de que aquilo funciona. Além disso, ao focar em ser um exemplo, você estará contribuindo não apenas para o crescimento das pessoas ao seu redor, mas também para o seu próprio desenvolvimento. No final das contas, não é sobre convencer os outros a fazerem algo, mas sobre construir uma vida que fale por si mesma.